Pecuaristas usavam Pix de loja de informática para financiar atos golpistas
O Pix de uma loja de informática em Xinguara, no sul do Pará, era divulgado por fazendeiros da região para arrecadar verbas para atos antidemocráticos. Trechos de conversas de WhatsApp, obtidos pela Repórter Brasil, e vídeos publicados em redes sociais revelam o empenho de empresários para levantar recursos e manter acampamentos bolsonaristas no Pará e em Brasília (DF), onde radicais pediam intervenção militar contra a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os depósitos eram direcionados para a USA Brasil de Xinguara. Na cidade, a loja é associada ao empresário Ricardo Pereira da Cunha, conhecido como "Ricardo da USA Brasil". Ele foi citado por um dos três envolvidos no atentado a bomba em Brasília em dezembro. Quando foi preso, George Washington de Oliveira Sousa disponibilizou à polícia os números de dois empresários do Pará para avisar do ocorrido — um deles era Cunha, segundo o jornal Correio Braziliense.
Cunha, que não é investigado pelo atentado, faz parte do Direita Xinguara, movimento conhecido por fazer campanha pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e espalhar outdoors atacando Lula e a esquerda. Segundo as conversas privadas acessadas pela Repórter Brasil, empresários ligados a esse grupo espalharam a vaquinha na conta da USA Brasil para financiar ações golpistas ao menos desde novembro.
Entre os empresários empenhados na arrecadação está Enric Juvenal da Costa Lauriano, que participou pessoalmente do ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. "Ó que lindo, que lindo! O povo tomando aqui, ó!", exclamou Lauriano, enquanto gravava a tomada do Congresso Nacional. As imagens foram transmitidas em seu Instagram. Lauriano não consta na lista de presos após o incidente de Brasília.
No dia 7 de novembro - pouco mais de uma semana após o segundo turno das eleições -, o empresário encaminhou em um grupo de WhatsApp o número de Pix da USA Brasil para "quem quiser ajudar nas despesas de Marabá" - onde fica o 52º Batalhão de Infantaria de Selva, um dos principais pontos de protestos bolsonaristas no Pará.
Por: Diego Junqueira, Gisele Lobato e Hélen Freitas